31 março 2016

Droga semi-sintética

Deve estar perto das três da manhã, esta é a última vez, prometo. Vasculho o quarto todo, de uma ponta à outra, desta vez está a ser impossível. A sensação que se entranha arrepia-me o corpo todo, arranho-me até ver sangue, mordo o corpo para fazer o tempo voar, e voo com o tempo. Agarro-me àquela sensação de liberdade, à vontade de poder sem depender, alucinante, consigo sentir os pés a levantar do chão, viajo em milhares de pensamentos. Fecho os olhos, sinto uma mão, entrelaça os dedos no meu cabelo e puxa-me, morde-me o pescoço e grita para que me mantenha acordada. Danço para não dormir, sinto todos os músculos a entrar em ebulição, tiro a camisa e o suor apodera-se de mim, a minha dança é digna de filme. Viajo em loucuras e alucinações, consigo ser tudo aquilo que quero. Quanto mais danço mais a mente se apodera do meu corpo, sou escrava de mim própria. A mente é tão forte que não sei distinguir o que é real do que é alucinação. Ontem aprendi a voar, mais ou menos por volta desta hora. Tento a mesma acrobacia. Só quero ser livre. Quero dançar sem os pés no chão. Agora, vejo coisas que não consigo descrever e sinto coisas que desconheço, a mão que me prendia deixou-me, dependo de uma mente alucinada. Deixo fugir as sensações e os pensamentos,  sei que chegou ao fim. Já não sinto, não penso, não faço. A mente voou o corpo ficou.

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